Atualmente, um dos principais assuntos pautados por jornalistas e profissionais da comunicação como um todo é a famosa inclusão. Mas você já parou para pensar em como é controverso o fato de que muitas empresas acabam só lembrando dessa importante questão em datas comemorativas? Ou pior, as companhias se esquecem de aplicar a inclusão na rotina do negócio, seja para ajudar no dia a dia de um colaborador com deficiência ou tornar acessível o consumo de seus conteúdos nos meios digitais.
Pesquisar um termo nos motores de busca, procurar por imagens, assistir a vídeos e clicar em CTAs clássicos, como os famosos “saiba mais”, são ações que podem ser complexas para as mais de 17 milhões de pessoas com deficiência no Brasil – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Afinal, o que é inclusão?
Nas palavras do antigo dicionário Aurélio, inclusão é a integração absoluta de pessoas que possuem deficiência em uma sociedade – a chamada política de inclusão.
Na prática, é o conjunto de medidas direcionadas a indivíduos minorizados, excluídos do meio social. Dessa forma, o objetivo dessas ações é possibilitar que todos os cidadãos tenham oportunidades de acesso a bens e serviços, tais como:
- lazer;
- saúde;
- renda;
- cultura;
- emprego;
- educação.
Diversidade e inclusão são a mesma coisa?
Apesar de muitas vezes serem usados como sinônimos, os termos diversidade e inclusão têm significados diferentes. Enquanto a diversidade está relacionada à representatividade, a inclusão está ligada à instituição de uma mudança de cultura e comportamento em relação às pessoas diversas.
E um importante passo para essa transformação de cultura é a adoção da acessibilidade digital por parte das empresas. Ela consiste em eliminar barreiras para a navegação na internet. Companhias que não trabalham a acessibilidade digital estão impondo limitações a pessoas com deficiência, já que tornam mais difícil o acesso a seus sites, conteúdos e aplicativos.
Como fazer um conteúdo inclusivo de verdade?
1 – Legende seus vídeos
Se você não tem esse hábito, devo te dizer que você está construindo uma verdadeira Muralha da China entre as pessoas surdas ou ensurdecidas e os conteúdos da sua empresa.
Além disso, você também está deixando de se comunicar com todos que assistem vídeos sem áudio. Aqui, vale mencionar que, de acordo com a Abratel, 75% das pessoas assistem vídeo no celular no modo mudo.
Moral da história? Ao legendar seus vídeos todos sairão ganhando. As pessoas com deficiência entenderão do que se trata e você não irá perder audiência.
2 – Inclua um intérprete de libras em suas produções audiovisuais
Apesar de ter um custo mais elevado, o intérprete de libras também ajuda a pessoa surda a conseguir consumir o conteúdo da melhor forma.
Por que? A Federação Mundial dos Surdos estima que 80% das pessoas surdas de todo o mundo têm baixa escolaridade e problemas de alfabetização na língua oral de seu país. Resumindo, se for adotada somente a legenda, a maior parte da comunidade surda poderá não compreender o conteúdo.
3 – Utilize as tags #PraCegoVer e #PraTodosVerem
As tags #PraCegoVer e #PraTodosVerem fazem parte de um movimento que chama a atenção dos usuários, para que coloquem uma descrição detalhada da imagem utilizada em suas publicações nas mídias sociais.
Detalhes como cor, formas, ordem de leitura, características de pessoas e o texto escrito na arte são importantíssimos para a compreensão. Assim, essas informações serão reproduzidas em aplicativos de áudio descrição.
4 – Evite ter muitas interrupções no seu conteúdo
Imagine que você está tentando fazer uma leitura e toda hora uma pessoa te interrompe para oferecer algo. Certamente você irá perder a linha de raciocínio, não é mesmo?
Isso é o mesmo que acontece com pessoas cegas que utilizam programas de leitura automática. Esses programas não saberão fazer a diferenciação dos CTAs dentro dos artigos e essas interrupções tornarão o conteúdo extremamente confuso. Portanto, seja o mais direto possível, sem ficar dando rodeios.
5 – Insira alt text em suas imagens
Esse recurso descreve não apenas o conteúdo da imagem, mas também seu contexto. Por exemplo, se você já viu imagens em uma página que não carregam corretamente, o alt text é o texto escrito exibido no lugar dessas imagens.
Algumas boas práticas para se inserir alt text nas imagens são:
- manter o texto curto e direto;
- fornecer contexto à imagem;
- usar palavras-chave, mas sem excessos;
- descrever a imagem da forma mais objetiva possível.
6 – Produza conteúdos de forma neutra
A identidade de gênero representa como a pessoa se reconhece e, por esse motivo, a questão de pronomes de tratamento pode ser algo muito sensível para alguns cidadãos. Afinal, se eu adotar pronome X ou Y, poderei estar excluindo determinadas pessoas do assunto.
Porém, escrever de forma neutra, nesse caso, não significa escrever “todes, tod0s ou todxs”, combinado?
Na verdade, essa linguagem pode acabar sendo excludente, uma vez que dificulta o trabalho de sistemas de leitura automática, além de deixar o conteúdo muito mais complexo para pessoas com dislexia ou com algum tipo de dificuldade de leitura.
Quando falamos de forma neutra, o ideal é não falar com um gênero específico, deixando o artigo muito mais leve e fluido. Por exemplo, em vez de “não fique preocupado”, use “não se preocupe”.
7 – Crie CTA’s objetivos
O call-to-action é essencial para o marketing digital, não é mesmo? Então, faça adaptações para que todos os públicos possam perceber o convite à ação.
Use botões descritivos. As opções “Preencher formulário” ou “Baixar e-book” são mais acessíveis do que um botão vago escrito “Clique Aqui”. Dessa forma, fica mais claro qual será a ação executada.
8 – Opte por conteúdo justificado à esquerda
Pessoas com deficiência intelectual podem ter dificuldade de leitura se o conteúdo estiver centralizado ou justificado, isso por conta dos espaços irregulares entre as palavras.
Então, colocar o texto justificado à esquerda é uma forma de garantir a legibilidade do conteúdo, ao facilitar a visualização para o maior número de usuários.
9 – Escolha cores visíveis para todas as pessoas
Conforme as Diretrizes de Acessibilidade ao Conteúdo da Web (WCAG), o ideal é que a taxa de contraste seja no mínimo 4.5:1 para texto normal.
Ou seja, é imprescindível seguir as normas para escolher as cores certas de textos, imagens, ícones e fundos, e garantir a acessibilidade do conteúdo.
Talvez a lição mais importante ao pensar o marketing de conteúdo em tempos de inclusão seja entender que a melhor forma de criar conteúdo é tendo empatia. É preciso compreender que cada ser humano tem suas limitações e dificuldades, e fazer o possível para que essas pessoas também tenham livre acesso às informações.
Lembre-se: usuários são, antes de tudo, pessoas. Eles não são apenas números para métricas.
Autora: Ingrid Garcez, Content Strategist na Hubify.