“O coronavírus está sendo espalhado pelo mundo através das antenas de transmissão da internet 5G”. “A ingestão de desinfetantes no corpo humano é um método eficaz de combate à COVID-19”. “O vírus não consegue se proliferar em locais de maior temperatura”. De teorias da conspiração a fórmulas milagrosas de cura, milhares são as falsas notícias propagadas sobre o ciclo pandêmico de Sars-Cov-2 nas plataformas e redes sociais do mundo todo.
É inegável que o contexto de pandemia que estamos enfrentando serviu como catalisador do fenômeno da hiperconectividade, sacramentando ainda mais a noção de que fazemos parte de uma data driven society, isto é, um mundo em que atividades, rotinas e modelos de negócio giram em torno da ampla propagação de dados. Hoje, quase não há separação entre o online e o offline, de modo que os indivíduos, ainda que de suas casas, são ininterruptamente bombardeados por alegações, relatos, notícias e informações das mais variadas possíveis.
Nesse universo que dá destaque ao Big Data e a uma ultra veloz propagação de informações, como muito bem pontuado pelo filósofo coreano Byung Chul-Han, cresce a relevância não somente dos conhecimentos de profissionais de saúde, como virologistas e epidemiologistas, mas também de especialistas de informática, novas tecnologias e manipulação de macrodados.
Também nesse contexto, muitos são os desafios enfrentados pelos profissionais que buscam a verdade real dos fatos, tais como órgãos oficiais, pesquisadores, imprensa e veículos de comunicação em geral. Em um mundo essencialmente digital, no qual as novas tecnologias e a variedade de plataformas, veículos e fontes acabam contribuindo para o espalhamento de informações incorretas, cresce ainda mais a relevância das chamadas fact-checkers, isto é, canais de comunicação que procuram atestar a veracidade de afirmações e desmentir boatos que circulam pelas redes sociais.
Como exemplo de uso louvável dessa imensidão de dados disponíveis no âmbito virtual, destaca-se a International Fact-Checking Network (IFCN), uma coalizão formada por mais de cem veículos de jornalismo originários de aproximadamente setenta países e que lançou, em janeiro deste ano, a #CoronaVirusFactsAlliance, plataforma colaborativa e disponível para livre consulta online desenvolvida para atuar na linha de frente no combate à “infodemia” – alastramento crônico de dados inverídicos – e que, desde seu lançamento, já realizou mais de 3.500 peças de checagens sobre a COVID-19, revelando-se uma importante ferramenta no combate à desinformação.
Não há dúvidas do quanto a Era da Informação reforça a importância do jornalismo profissional para a consolidação de liberdades e direitos fundamentais, assim como para o fortalecimento da democracia. De toda forma, em tempos de pandemia, mais do que nunca, crescem também a responsabilidade e o compromisso de cada cidadão com o coletivo, sobretudo no sentido de impedir, tal qual a disseminação do vírus, a transmissão irrefreada de fake news. Em um mundo em que um click é capaz de repercutir do outro lado do planeta, filtrar, confirmar e sempre buscar as fontes das notícias antes de compartilhá-las são cuidados tão relevantes quanto às recomendações médicas e sanitárias.