Tarefas complexas sempre ajudam a entender um pouco das dificuldades envolvidas na busca por soluções. Diante de um desafio, não é raro que a primeira pergunta seja algo como “tá bem, mas quem é responsável por resolver isso?”
Buscar responsáveis é importante para fazer as coisas acontecerem em nível operacional, mas geralmente não dá conta de situações multifacetadas, como a busca por maior diversidade. Isso porque o desafio é tão complicado, com tantas frentes, possibilidades e necessidades, que fica difícil achar um único responsável pela solução ou um caminho em direção a ela.
“Ah, mas aí cachorro com muitos donos morre de fome ou fica gordo”, vão pensar alguns. Talvez, se a gente pensar que ninguém vai assumir para si a proatividade de colocar ração para o bichano. Mas… já pensou se todo mundo se dedicar a verificar o pote de comida do cãozinho?
É um pouco nesse sentido que tenho preferido pensar a importância da diversidade, especialmente no setor publicitário. Somos todos responsáveis por garantir que esse tema seja trabalhado e priorizado nos ambientes em que circulamos, sejam eles profissionais ou não.
Claro que a criação de departamentos de Diversidade e Inclusão (D&I) é importante para acelerar iniciativas que promovam uma sociedade mais heterogênea, igual e inclusiva. No entanto, a consciência da importância da diversidade não deveria ser somente trabalho deles: é responsabilidade de CEOs, diretores, gerentes, coordenadores e até estagiários. É uma função que eu e você também deveríamos nos preocupar em exercer. E, muitas vezes, tudo o que a gente precisa fazer é trazer o tema para a mesa.
Em 2014, o então associado Eduardo Fleury me chamou de lado e me contou que eu precisava olhar para as mulheres da publicidade digital. Apenas por vocalizar, ele me provocou a ponto de me levar a criar um comitê que tomou proporções muito maiores do que eu esperava. Eram tantas as publicitárias interessadas que não foi possível comportá-las na sala de reuniões do antigo prédio do IAB Brasil, na Avenida Angélica.
Na época, eu não tinha ideia de que era algo tão necessário e latente, mas depois de dar esse primeiro passo, o encontro se tornou capaz de canalizar essa energia mobilizadora represada em ações importantes sobre a diversidade de gênero.
Por isso, neste mês de novembro, quando pelo 11º ano seguido lembramos da importância de desenvolver a consciência negra e prezar pela diversidade racial, acho importante destacar que a consciência é apenas o primeiro passo. A partir dela, é preciso agir, encontrando maneiras de levantar a bandeira das diversidades aonde sabemos que temos oportunidades de fala ou espaços de poder.
Foi a partir dessa visão, junto com a sensação de que existem tantas diversidades e necessidades que não iremos solucionar de um dia para o outro, que entendemos que mais do que criar um movimento que buscasse soluções, precisávamos de um fórum para abarcar essas importantes discussões. Decidimos criar um Comitê de Diversidade e Inclusão, em que nossos associados podem debater sobre os aprendizados e caminhos percorridos em D&I até agora, de maneira que possam se inspirar mutuamente.
Esse comitê, hoje liderado por Lucas Reis e Luiza Oliveira, celebra neste ano seu segundo aniversário e tem como objetivo principal continuar a fomentar a troca de conhecimentos sobre o tema, englobando a diversidade e a inclusão não somente como uma consciência moral e social, mas também como um imperativo estratégico de negócio, capaz de potencializar a criatividade e a capacidade de realização dos nossos times.
Trazendo a responsabilidade pra dentro de casa, esse comitê foi crucial para manter o debate sobre inclusão e diversidade ativo na nossa comunidade e ajudar a construir o nosso “Guia Para a Contratação de Talentos Diversos”, que traz dicas e estratégias para auxiliar na seleção e contratação para que esses processos possam ser mais inclusivos.
Na dúvida, convido você a fazer o “teste do pescoço” que a Viviane Duarte me ensinou. Vire a cabeça de um lado para o outro e conte quantas pessoas negras, mulheres, diferentes faixas etárias, enfim, quanta gente diversa há em uma sala, palco ou mesa de reunião. Já adianto que pode ser um exercício que vai deixar você desconfortável com a estarrecedora ausência de diversidade que vamos encontrar na maioria dos locais que costumamos circular.
E deixa eu lhe contar uma coisa: esse desconforto, não deixa ele sumir. É exatamente ele que vai ajudar você a tomar a consciência necessária para se responsabilizar em dar o primeiro passo. Em evitar uma linguagem racista, em pensar que seu grupo de discussão tem um viés e buscar outras vozes pra colaborar.
Parece pouco, mas é um primeiro passo importante para fazer tudo mudar.
Autor(a): Cris Camargo, CEO do IAB Brasil