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Mulheres do Digital – Detox da influência

Mulheres do Digital – Detox da influência

Use seu like para construir sua consciência, não para destruir sua autoestima

Se existe algo que mudou radicalmente a maneira como nós mulheres nos posicionamos,  construímos o nosso repertório e lutamos por nossos direitos, esse algo é a internet, especialmente as redes sociais.

Compartilhar ideias, articular movimentos, quebrar preconceitos, pedir ajuda, desabafar, se identificar, se reconhecer. É tudo mais rápido e fácil hoje do que jamais foi. 

O que mais gosto de observar nesse contexto é que a possibilidade de nos identificarmos e nos reconhecermos como únicas e especiais é, de fato, algo real. Se antes o poder de se comunicar estava concentrado em poucos grandes veículos de comunicação que ditavam moda, estabeleciam padrões de beleza e construíam narrativas machistas (não por acaso né? Já que os grandes veículos de comunicação foram sempre geridos e dominados por homens), agora, as redes tratam de pulverizar e democratizar esses discursos.

Acontece que tem uma pecinha chave nessa engrenagem que se chama audiência e ela é representada, na sua menor unidade, por ninguém mais ninguém menos do que: você. Que por mais empoderada que esteja em seu discurso e munida de informações, talvez ainda se alimente de conteúdos que não contribuem em nada para sua autoestima, que consomem seu tempo e que de alguma forma te mantém numa bolha.

Explico: na mesma proporção que a internet possibilita que qualquer pessoa produza conteúdo, o algoritmo trabalha para que você tenha acesso a assuntos do seu interesse, o que pode significar, estar “presa” em timelines de pessoas muito parecidas com você. Isso não amplia sua visão de mundo e não te permite entender realidades diferentes. Quer um exemplo? Abra seu Instagram e procure por lá mulheres realmente diferentes de você: de outros tons de pele, de outras culturas, de outras idades, de outra classe social, com alguma deficiência. Quantas encontrou?

Se muito do que consumimos hoje é o que nos é ofertado pelo algoritmo, essa realidade não vai mudar sem a sua atuação.

Para isso, eu queria sugerir aqui que você fizesse uma “faxina” no seu Instagram, eliminando pelo menos um perfil que se encaixe nessas condições e substitua por uma mulher que estoure a sua bolha. No final do artigo, vou deixar algumas sugestões pra você. 

Homem-palestrinha: sabe aquele perfil “homem-branco-hétero-rico” com um microfone na mão na foto do perfil? Aquele que acha que sabe muito e é cheio de dar dicas de como se dar bem na vida, baseado única e exclusivamente no lugar de privilégio em que ele se encontra? A realidade dele tem muito pouco a te acrescentar, já que ele provavelmente nunca sofreu assédio no trabalho, não precisou cancelar a palestra para levar o filho ao pediatra, nem passou os 4 ou 6 meses da licença maternidade com medo de voltar e ser demitido do seu emprego. Você não precisa dele, acredite em mim.

Influenciador(a) PoliShop: Sabe aquela pessoa, que a cada 10 stories que posta, 9 tem o @ de alguma coisa que ele está fazendo #publi? Você pode viver sem as dicas de quem não tem nada a oferecer além de sugestões de onde gastar um dinheiro desnecessário para aparentar ser uma pessoa que você não é. 

Musa-Fitness: Se você se exercita por saúde e come por prazer, não precisa se torturar com a “suposta” vida saudável-perfeita-mas-inalcançável e com a barriga negativa que você não tem. Controle seu colesterol e seja feliz com seu corpo. O detox que você mais precisa é de arrobas tóxicos, não de comida.

Profissão herdeira: se tem uma coisa que dá audiência é compartilhar uma vida de luxo, recheada de restaurantes caros, viagens de jatinho particular, mansões com pé direito de 3 metros e bolsas que custam o valor de um carro popular. Isso dá audiência por ser completamente fora da realidade de 99.9% da população e é natural ter curiosidade por uma vida assim. Acontece que esse conteúdo pode ser também motivo de frustração pra você, que não herdou dinheiro suficiente para não precisar trabalhar nunca mais na vida. 

Positividade tóxica: o mundo está caindo, a realidade é desanimadora, mas a pessoa está postando florzinha gratidão pelo aprendizado. Sim, precisamos de pessoas otimistas, precisamos de quem nos ajude a enxergar a luz no fim do túnel, mas isso é diferente de ignorar a realidade, mitigar o sofrimento e impor a nós mesmas ou aos outros, uma felicidade falsa. A pandemia escancarou essas pessoas na nossa vida, talvez numa tentativa de se manterem sãs ou numa total ignorância da realidade. Tem muita gente vendendo superação, reinvenção, volta por cima nas redes sociais, mas está em frangalhos por trás das câmeras. Não compre necessariamente como verdade, não se frustre. Seja lá qual foi o seu estado de espírito durante esses últimos 12 meses, dificilmente eles foram somente flores pra você e é importante se conectar com quem tem empatia por isso. 

Como prometi, depois desse detox, conheça esses perfis que deixei aqui, não vou explicar nada sobre eles, quero apenas que você se dê a chance de conhecer mulheres especiais que me inspiram e que possivelmente farão o mesmo por você. Tem muitas outras além dessas, espero que você as encontre também nessa jornada:

Alice Pataxó

Veronica Oliveira

Mariam Chami

Gabi Oliveira

Alexandra Gurgel

Avós da Razão

Andrea Schwarz

Giovanna Heliodoro

Thai de Melo Bufrem

Ana Clara Moniz

Stella Bitencourt

Nátaly Neri

Carla Lemos

Andrea Werner

Mah Laranjeiras

Depois me conte o que achou. Você me encontra no @rafalotto

Autora: Rafaela Lotto, Sócia e Head de Estratégia da YOUPIX