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Mulheres do Digital – O feminino fala, mas o mundo está barulhento e não consegue ouvir

Mulheres do Digital – O feminino fala, mas o mundo está barulhento e não consegue ouvir

Entre os muitos papéis que desempenham, as mulheres “precisam” estar aware e, de preferência, com uma opinião formada sobre os assuntos do momento na política, sociedade, saúde pública, economia, carreira. Têm que participar da educação dos filhos neste cenário complexo de estudo à distância e ter sensibilidade suficiente para perceber se eles estão se adaptando e aprendendo. Recomenda-se também que tenham interesse por beleza, gastronomia e moda. Afinal, viver nas grandes cidades exige um certo repertório nessas áreas.
Acrescente a isso o fato de que é imprescindível se engajar em causas urgentes como a violência contra a mulher, representatividade e equidade de gênero. Se você se reconheceu em alguma das frases acima, parabéns! Você é uma mulher de 2021 e não dos anos 1950. Exausta, porém absolutamente ativa e na fase mais produtiva – e estressante – da sua vida. 

Nunca consumimos tanta informação. Somos abordadas por mensagens de todo tipo a cada minuto, compartilhadas pelos amigos ou colegas de trabalho em grupos de WhatsApp, newsletters que invadem nossa caixa de e-mail, push notifications vindas das redes sociais ou das mais diversas plataformas de nossos publishers preferidos.

Nunca se produziu tanto conteúdo. Muito a falar para uma audiência que tem pouco tempo e muita opção. Além dos veículos de comunicação, influencers, celebridades e marcas estão escrevendo, fazendo vídeos, podcasts, lives e talks numa avalanche de informações boas e outras nem tão boas assim. Todos com o propósito de dar seu recado, seu ponto de vista, vender seu produto ou um posicionamento.

O fato é que não somos capazes de absorver tudo o que está disponível em tantas plataformas ao mesmo tempo. A disputa por um momento na atenção da audiência é grande e, nessa ânsia de dizer mais, mais rápido e com mais opinião, os produtores de conteúdo se esquecem que só quantidade e agilidade não são mais suficientes. Do lado dos publishers, que todos os dias olham o mundo e tentam  traduzir para milhares de mulheres o que é relevante, o desafio é igualmente imenso. O mundo está barulhento demais. Poucos se preocupam em perguntar se aquilo que entregam faz sentido.

Simplesmente despejam, ditam, informam, reproduzem. Poucos dialogam. Afinal, o que pedem os corações femininos? Você já se perguntou isso hoje? Ou melhor, pensou em perguntar isso para sua audiência? É urgente que façamos  isso todos os dias. O que aprendemos fazendo conteúdo em meio a uma pandemia sem precedentes é que nossa audiência quer beber em fontes frescas. Quando o conteúdo realmente toca nossos corações, dá vontade de compartilhar com quem a gente gosta. O bom jornalismo ajuda a organizar o mundo e as ideias, explica e entretém. Para quem faz, vicia como um “biscoito fino”, que enche de prazer na primeira mordida. E para quem consome, preenche. Mas para isso tem que ser diferente e cada vez mais consistente. Tem que ter beleza, precisa trazer profundidade, conforto às nossas angústias e – ao menos tentar – responder às nossas perguntas. A verdade é que poucos conseguem tocar o feminino que existe em nós. Como mulher, acredito que a mágica acontece quando sabemos que somos ouvidas por dentro, ainda que o volume esteja tão alto “do lado de fora”.

Autor(a): Virginia Any, Head Comercial da ELLE Brasil.
Vivi é mãe da Clara, Chloé e Luis Felipe, dirige a ELLE Brasil com a Susana e decidiu que só quer consumir “biscoitos finos”.