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Mulheres do Digital – O mercado de trabalho e a atuação das mulheres na tecnologia

Mulheres do Digital – O mercado de trabalho e a atuação das mulheres na tecnologia

Escrever sobre o papel da mulher na sociedade é muito bom. É um assunto que tem fôlego, que se desdobra, que nunca acaba, que tem várias pautas e por aí vai, exatamente como a nossa rotina. Em março, Mês das Mulheres, falar sobre os vários papéis que exercemos está virando commodity. Eu, claro, apoio (e muito!) esse comportamento, mas gostaria de aproveitar este espaço para explorar um pouco da atuação da mulher em uma área majoritariamente masculina: a tecnologia.

Sou profissional de comunicação faz tempo. Não sou nativa digital, mas meu mergulho nesta temática foi uma demanda do mercado quase obrigatória. Revendo meu momento profissional nos últimos anos e tudo que aconteceu no mundo, cheguei a conclusão que precisava entender mais de tecnologia. Não ser uma expert, mas estar em uma empresa que me levasse a desbravar esse universo.

Depois de mais de uma década em agências, a MetaX – uma empresa global de software, que desenvolveu uma plataforma proprietária de publicidade em TVs conectadas – viu meu potencial e me deu esse desafio. E foi aqui, onde estou desde o início de 2020, que passei a aprender muito tecnicamente, mas também a ver de forma mais clara os espaços que as mulheres vêm ocupando neste setor da indústria

Para escrever esse texto, pesquisei alguns dados sobre nossa presença nas áreas de Tecnologia da informação e Comunicação, que é composta por 37% de mulheres e 63% de homens. Em marketing e vendas, esse setor tem menos desigualdade: 49,3% mulheres e 50,7% de homens (fonte: Catho / Brasscom). Mas é interessante saber que mulheres já foram pioneiras nesse mercado anos atrás, inclusive a primeira programadora da história foi uma mulher: Ada Lovelace.

Podemos nos perguntar o porquê dessa diferença hoje em dia. Uma das respostas vem da nossa própria profissão: campanhas onde o protagonista é masculino – herança de um passado relativamente próximo e no qual a mulher não se identificava com o produto “computador”.

Foi criado esse estereótipo que, na verdade, ainda persiste em várias profissões e cargos. Ainda assim, atualmente, já vemos o mercado tentando fazer sua parte como, por exemplo, escolhendo a atriz Grazi Massafera para estar à frente da campanha dos notebooks Dell XPS 13. Sim, é um avanço, mas estamos longe do ideal quando falamos de representatividade na publicidade, não é?

A questão é cultural, visceral, enraizada até mesmo em nós mulheres. Será realmente que temos mais aptidão para letras, artes ou humanas? Quem pode nos provar isso biologicamente? Com essa pergunta na cabeça fui pesquisar sobre Engenharia para fazer um paralelo. Vista até pouco tempo como uma profissão que nos expelia, afugentava, este mercado vem ganhando cada vez mais representatividade feminina, mas veja, os esforços continuam poucos, tornando a área até pior que a Tecnologia quando falamos de um aumento significativo de profissionais mulheres.

E o que fazer para mudar esse cenário? Como um problema cultural, temos muito a transformar. Primeiro, homens e também mulheres precisam se desconstruir na busca por mais igualdade e menos conceitos pré-definidos. Vejo casais super apegados a estereótipos de gênero na escola do meu filho, em cenários sociais e econômicos muito próximos ao meu.

Espero que as meninas da chamada Geração Alpha – crianças que nasceram a partir de 2010 – não se deixem levar por ideias tão retrógradas. Eu acredito que elas serão fundamentais para a mudança do mindset sobre mulheres na tecnologia. Elas são a geração mais conectada da história, nativas digitais, gamers ultraconectadas. O cenário, felizmente, é promissor. A diversidade será mandatória. Cada vez mais mulheres estarão em cursos universitários de Ciência da Tecnologia. O foco na igualdade será preliminar para essa turma. Casamento e filhos serão adiados, como já começou a acontecer hoje em dia. 

Desde 1968, após protesto em que mulheres queimaram seus sutiãs como um ato feminista, evoluímos, mas não avançamos muito. Porém, acredito que as Alphas vão acelerar significativamente esse processo, superando gerações passadas. Elas chegam com mais legitimidade na tecnologia e vivem isso diariamente, sem precisar da aprovação da sociedade para isso – como aconteceu com tantos de nós. Assim serão as profissionais de RH, que não farão mais distinção na hora da contratação, garantindo às empresas mais igualdade e equilíbrio em diversas áreas e cargos.

E cadê os homens neste cenário de empoderamento feminino?

Embora haja aquela parcela que acredita que em busca de privilégios, é fundamental que saibamos como inserir os homens contemporâneos nesse diálogo, homens que apoiam o verdadeiro sentido do empoderamento feminino, já que ele só acontecerá de verdade quando todos se conscientizarem dos nossos direitos como seres humanos iguais. 

E também precisamos muito de mulheres que apoiam outras mulheres. As que estão em cargos de liderança na tecnologia vêm aumentando e contamos com elas para aumentar a representatividade nesse setor.

Que fique claro que eu não atuo em frentes ou movimentos feministas, mas acredito muito na igualdade de gênero e de qualquer outra forma. Mulher, homem, somos iguais intelectualmente. Podemos pensar e ser o que quisermos e temos todos capacidade para isso.

Lugar de mulher é mesmo onde ela quiser e será lindo quando mais e mais quiserem estar no topo da tecnologia!

 

Autora: Vanessa Delgado, Senior VP Business Development na MetaX e vice-presidente do Comitê de Vídeo Digital do IAB Brasil