Nos primórdios da revolução digital, no início dos anos 2000, Bill Gates e Nobuyuki Idei, então presidente da Sony, tiveram uma conversa memorável que ilustrou a diferença entre a experiência de usar um computador pessoal e assistir à televisão, da época. Idei, ao afirmar que “a diferença está nos 30 graus do sofá”, capturou a essência da interação ativa que os computadores exigem em contraste com a passividade do consumo televisivo, da época. Essa dicotomia refletia não apenas as abordagens de duas gigantes da tecnologia, mas também as expectativas dos consumidores em relação a esses dois dispositivos.
Contudo, nem mesmo esses brilhantes executivos conseguiriam imaginar o cenário de convergência de devices que vivemos hoje. Com a chegada das TVs conectadas (CTV), o panorama mudou drasticamente. Neste contexto, a publicidade ganha todo o foco para si, que ora se passa por vilã e atrapalha o merecido momento no sofá, ceifando abruptamente o conteúdo escolhido, à cirúrgica assertividade, mostrando uma publicidade direcionada aos usuários daquele mesmo sofá, fundamentada em uma infinidade de dados e algoritmos. A fusão entre a experiência online e da TV trouxe possibilidades que, embora únicas, também carregam alguns ‘vícios’ de comportamento herdados do ambiente digital. Hoje, posso escolher o que assistir, pausar, comprar, colocar em mudo quando entra um anúncio ou mesmo pulá-lo. Tudo isso acrescido de uma considerável camada de impaciência, oriunda da experiência digital desse mesmo usuário esparramado em seu sofá. Ele é simultaneamente espectador e consumidor ativo de conteúdo digital. Essa nova realidade significa que, ao assistir a anúncios em uma CTV, muitos experimentam o mesmo desagrado que sentem ao ver publicidade em um meio online ‘tradicional’. A função de “skip” , quando disponível, se tornou um mecanismo comum, permitindo que os espectadores pulem anúncios indesejados, refletindo uma crescente aversão à publicidade intrusiva. Um estudo recente da Comscore aponta que 87% dos entrevistados consideraram que é mais fácil pular anúncios em CTV.
Neste novo ecossistema, a gestão da publicidade se torna um desafio crítico. Os anunciantes precisam reconsiderar suas estratégias para capturar a atenção de um público que não hesita em desviar o olhar ou mudar de canal. Isso levanta a questão: como os usuários estão gerenciando a publicidade em um ambiente onde a linha entre o conteúdo e os anúncios está cada vez mais tênue?
A resposta pode estar na personalização e na relevância. Os consumidores estão mais propensos a engajar com anúncios que ressoam com seus interesses e comportamentos. Plataformas que oferecem publicidade direcionada, baseada em dados de visualização e preferências do usuário, têm mais chances de sucesso. Além disso, as marcas precisam explorar formatos inovadores, como anúncios interativos e conteúdo patrocinado, que proporcionam uma experiência mais envolvente e menos intrusiva.
Para complementar essa análise, artigos como “The Future of Television Advertising: Are you Ready?” da AdExchanger e “To skip or not to skip – What keeps people watching?” do Think with Google oferecem insights valiosos sobre as tendências atuais e as expectativas dos consumidores em relação à publicidade em plataformas conectadas. Esses recursos podem aprofundar a compreensão do impacto da CTV na publicidade e como as empresas podem se adaptar a essa nova realidade.
Em suma, a convergência entre as mídias de computador e TV tem redefinido a experiência do usuário, mas também apresenta um desafio significativo para a publicidade. À medida que os consumidores se tornam mais exigentes, as marcas devem encontrar maneiras criativas e eficazes de se conectar com seu público, garantindo que a publicidade não apenas alcance, mas também ressoe. Novos formatos, novas abordagens e novas tecnologias permeiam este futuro do agora.”
Autor(a): Paulo Arruda, Consultor de Negócios