A publicidade voltada para dados passa por mudanças estruturais, sobretudo em um momento em que a Europa implementa sua legislação e o Brasil aprova uma regulação parecida. Em um mesmo ano, discutimos o hiper conhecimento do usuário, a tecnologia na comunicação e em qual ponta da equação – se na parte da automatização total ou da comunicação sem dados – estaria a campanha ideal.
Segundo o relatório Dimension 2018, o número de brasileiros confiantes de que as marcas se comunicavam bem passou de 86% em 2017 para 80% em 2018 – embora seja uma porcentagem alta, essa queda mostra uma mudança na percepção do consumidor sobre a comunicação das marcas. Também a relação entre usuário e publicidade online foi algo a se perceber: 54% dos consumidores globais bloqueiam, sempre ou esporadicamente, os anúncios online, sob o argumento de que não gostam da publicidade ou de que ela está piorando; apesar de nem sempre se engajarem com a publicidade, no entanto, eles também entendem que seus dados pessoais têm valor como matéria-prima para ela, motivo pelo qual considerariam a venda de deles para marcas de sua preferência por 150 dólares ou mais* .
Além das reações manifestadas pelo consumidor final, as questões regulatórias também implicaram em uma revisão de processos: uma pesquisa** liderada pela Duke University, a Associação Nacional dos Anunciantes e a Deloitte mostra que mais de 10% dos profissionais de marketing americanos pretende reduzir o uso de dados 3rd party. Essa reação vem tanto dos browsers utilizados pelos internautas, que têm políticas distintas – e cada vez mais restritivas – sobre cookies, mas principalmente escândalos sobre a utilização das informações desses cookies, como o famoso Cambridge Analytica, que chocou tanto o mercado no início deste ano. A alternativa ao uso desse tipo de dados veio do Publisher que, ao obter dados legítimos e consentidos, se tornou um parceiro atrativo para campanhas feitas com dados confiáveis e dentro das leis.
Como os dados podem agregar, em vez de substituir?
Neste contexto, o que se vê é que não existe um abandono do uso da tecnologia para a comunicação, mas o desafio de usá-la de maneira mais estratégica do que tática, entendendo e medindo os reais ganhos que a publicidade traz e pode trazer. Para tanto, é necessário que pensemos nas inovações tecnológicas para a propaganda não só como ferramentas a serviço da criação, mas também como geradoras de negócio.
Em um viés criativo, o uso de dados pode contribuir, por exemplo, com a adoção de uma visão user-centric pela otimização de criativos dinâmicos (DCO). Dessa maneira, a mensagem, traduzida em peças impactantes e criativas, é veiculada de maneira customizada com base nos dados, que vão variar de acordo com as preferências, características ou lugar do consumidor dentro do funil de conversão.
Mas o verdadeiro valor do mercado adtech, sobretudo dos players do lado da compra da mídia programática, está (e tende a continuar) cada vez mais na mensuração e na análise das campanhas. É com o acompanhamento das audiências que se identificam as melhores condições para a veiculação de uma campanha (como a frequência ideal, a recência, os domínios preferenciais e os perigosos para a marca) e se revela o padrão de compra de mídia mais adequado para gerar um incremento real no valor da publicidade (melhores preços de bid, formatos mais impactantes para cada desafio de comunicação, tipos de mensagem que geram maior engajamento).
O mercado dos dados se reinventa e renasce como inteligência. As restrições que sentimos nos mercados estrangeiros e que replicamos aqui são, antes de um fator limitante de negócios, o reflexo de um mercado que, por sua evolução, precisa encontrar soluções cada vez mais eficientes para manter seus resultados e sua expansão. Mudamos de era: partimos da automação desmedida para o gerenciamento estratégico – e criativo – da tecnologia, em que o valor não é só medido pelas muitas métricas pelas quais se pode pautar uma campanha, mas pelos insights que ela é capaz de trazer para os profissionais de marketing e publicitários.
Autor: Essio Floridi (CEO da Tradelab Latam)