Quero propor um pequeno teste: se eu dissesse que em um certo país, 25% do PIB já é transacionado em plataforma mobile, de qual país você diria que estamos falando? China? Coréia? Não… estamos falando do Quênia! Surpresa ou não, a tecnologia mobile de baixo custo caiu como uma luva para os desafios de territórios africanos impactados pela guerra, tanto para que as pessoas nos campos de refugiados pudessem manter contato com suas famílias, quanto para que pudessem manter seu dinheiro em um ambiente seguro.
Essa história nos ensina duas lições, a primeira é que apesar das tendências terem impacto global, elas se concretizam de acordo com cada realidade local. A segunda é que não podemos tratar inovação com a mística de um conceito abstrato. Como o próprio sufixo da palavra sugere, é uma ação. Significa transformar a realidade e superar desafios utilizando os recursos disponíveis de uma maneira nova e isso pode ser feito em qualquer lugar, até mesmo em regiões precárias na África.
O que tornará o próximo ano melhor não será o surgimento de uma nova tendência, mas o que faremos com as cartas que já estão na mesa. Aposte que em 2017 também estaremos sob a influência das mesmas tendências que nos guiaram esse ano, como imaterialização, individualização, sustentabilidade, conectividade, diversidade. Continuaremos a presenciar o amadurecimento da sharing economy com o surgimento de novos modelos, assim como veremos a evolução da usabilidade nas realidades virtual e aumentada. Interagiremos com mais aparelhos conectados e eles também serão mais treinados e terão aprendido a lidar melhor com a nossa rotina. Se na próxima década passaremos a ter 1B de mulheres na economia formal, esteja certo que no próximo ano veremos as transformações da sheconomy e ao mesmo tempo, o surgimento de novos polos de desenvolvimento que estimularão um ambiente mais diverso e criativo. E ainda assim, o que mudará o jogo não será assistir esses movimentos acontecerem como mero observador, mas tomar parte: discutir, experimentar, prototipar, testar, pivotar.
Não. Não é uma missão fácil. Estamos envoltos em crises financeira e política, imersos em incertezas. Mas como vimos no caso africano, os desafios são oportunidade para inovação, eles moldam o desenvolvimento. Vale do Silício, Tel Aviv, Singapura, Waterloo, Bangalore – cada polo tecnológico supera desafios a sua maneira e materializa tendências conforme a sua realidade. E ao mesmo tempo, compartilham uma característica de nascença e essência, que é o fato de servirem como comunidades de especialistas.
É sob a ótica de fomentarmos nossa própria comunidade de especialistas que precisamos encarar que para termos um próximo ano melhor, temos a obrigação de sermos mais participativos em fóruns como os comitês do IAB. Comunidades abrem espaço para troca, discussão, experimentação, aprendizado e disseminação de conhecimento e esses são os exercícios que desenvolvem inovação e constroem uma melhor perspectiva.
Março 2017
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