Tenho ficado chocada com as experiências de publicidade digital, particularmente mobile, com as quais tenho me deparado recentemente.
Sou constantemente impactada por banners que bloqueiam integralmente o conteúdo de alguns sites apesar de, em muitos desses casos, ser assinante desses portais.
O que me causa maior espanto é que constantemente vejo a defesa técnica, em vários artigos, de que o segredo do sucesso para seduzirmos o consumidor a não bloquear os anúncios é que seja dado a ele o acesso a um bom conteúdo em troca de que ele aceite ser impactado pela publicidade.
O fato é que, na experiência pessoal que descrevo, sou uma consumidora que paga por conteúdo, paga por banda de acesso e, ainda assim, tenho minha experiência repetidamente obstruída por publicidade que não me interessa e que, para ser exibida, consome a minha franquia de dados. Qual o valor adicional que essa publicidade me oferece, além da interrupção da minha experiência de navegação com ofertas irrelevantes?
Agências, publishers e anunciantes não devem se iludir de que essa consciência – meu tempo de lazer está sendo usurpado e meus dados estão sendo consumidos indevidamente – é restrita a pessoas com um nível social maior.
Na minha casa, a empregada usa o Wi-Fi e desliga os dados do celular (que é um smartphone de R$ 1.000 comprado em 10 parcelas de R$ 100) e detesta o fato de que sua operadora lhe mandar SMS’s com ofertas que ela considera desinteressantes.
A consequência direta desse tipo de situação certamente será a adoção cada vez mais rápida e em larga escala dos AdBlockers. Muitos ainda podem ter a ilusão de que são de complexa instalação e pouco conhecidas as ferramentas de AdBlocker.
E que a indústria está tomando medidas para impedir a sua adoção. A mim, essas alegações parecem ter a mesma natureza dos protestos dos taxistas contra o Uber. Vivemos a era da conveniência e do bom serviço para o consumidor. O que ele quer, ele consegue. Muito em breve será extremamente simples instalar um Adblocker. E as tecnologias serão muito populares. Simplesmente porque, com a experiência que oferecemos hoje, ver um conteúdo sem propaganda é algo extremamente desejável. A indústria publicitária precisa refletir com franqueza sobre a questão dos AdBlockers: olhando-os não como inimigos e sim como um chamado.
O consumidor continua gostando de comprar, de coisas bonitas, novas, modernas, úteis e interessantes. Precisamos, entretanto, aprender a falar sobre elas de uma nova maneira, condizente com uma era, onde a tecnologia perpassa a vida de todos nós e é capaz de facilitar nossa vida nos livrando de tudo aquilo que nos aborrece ou incomoda. Se a publicidade for algo interessante e relevante, ela será abraçada e bem-vinda. Se ela for chata e intrusiva, será bloqueada. Está nas nossas mãos construir o caminho para sermos convidados para a festa.